07/03/12

Inteligência emocional e política

 
Há palavras-chave  que ouvimos com frequência neste tempo de dificuldades: credibilidade, competitividade, confiança. Mas parece-me que há outras que não podem ser esquecidas: inteligência emocional e cooperação.
A cooperação significa trabalhar com os outros para objectivos comuns. Parece, no entanto, que cooperação é a última coisa que interessa a alguns parceiros sociais e políticos.
Em vez de objectivos comuns, ouve-se a mesma ladainha (cassete) em relação a todas as medidas e propostas tomadas pelo governo, legitimado pelo voto democrático:
Acaba-se com os governos civis
            Isto não vai lá assim.
Acaba-se com os prémios aos melhores alunos do secundário
            Isto não vai lá assim
Não há tolerância no carnaval
            Isto não vai lá assim
Acaba-se com alguns feriados civis e religiosos
            Isto não vai lá assim
Tiram-se dois subsídios aos funcionários públicos
            Isto não vai lá assim
Acaba-se com algumas novas oportunidades
             Isto não vai lá assim
Altera-se o iva
            Isto não vai lá assim
Pagam-se as scuts
            Isto não vai lá assim
Vende-se a edp e a ren aos chineses..
            Isto não vai lá assim
Fazem-se nomeações como habitualmente
            Isto não vai lá assim
Tenta-se ajustar o currículo do ensino básico
            Isto não vai lá assim
Os alunos do 6º ano passam a fazer exames
            Isto não vai lá assim
Regulam-se os abusos do chamado rendimento social de inserção
            Isto não vai lá assim
Criam-se novas respostas para menos idosos morrerem sozinhos
            Isto não vai lá assim
Faz-se um acordo com a UGT e empresários
            Isto não vai lá assim
Tenta-se recapitalizar os bancos
            Isto não vai lá assim
Etc., etc. 
Para que servirão os parceiros sociais como os sindicatos e as associações empresariais se não houver cooperação? O que devemos pensar de parceiros sociais que durante mais de vinte anos, praticamente, nunca assinaram qualquer acordo ?
Como pode um país ter um desenvolvimento sustentado quando as oposições (não me refiro apenas às actuais) vivem da negação permanente de todas as medidas necessárias à gestão governativa ?
A cooperação é uma componente da inteligência emocional e está arredada da política. Pelos vistos a inteligência emocional é apenas para os indivíduos e para as empresas mas nada de a meter na cidadania. A palavra cooperação institucional tem sido usada entre algumas instituições principalmente quando surgem divergências entre essas instituições.
Mas, num momento de crise profunda, é necessária a inteligência emocional a todos os parceiros sociais e políticos, designadamente governos, sindicatos e empresários.
Mais uma vez vale a pena referir Maria de Lourdes Pintasilgo, Dimensões da mudança, que em 1985, tinha percebido que nos últimos tempos aconteceram demasiadas coisas importantes.
" Na verdade, são coisas demasiado importantes e vitais para nos limitarmos a visões ideológicas que são velhas de décadas ou mesmo de séculos. Outra perspectiva é necessária."
Depois do colapso económico o que nos continuam a vender os que são contra todas as medidas ? Que o problema é a economia. Não, não é.
“Se há um colapso óbvio, é o colapso da economia enquanto ciência e daqueles que a exprimem. É tempo que isto seja dito num contexto cultural.”(pag. 224)
A crise financeira e económica agravou-se actualmente mas o problema é de outra natureza. Há um mundo que mudou e as velhas instituições ainda não deram por isso.  

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