06/06/13

Cooperação e solidariedade


Numa das ultimas entrevistas que o secretário-geral da CGTP, Carvalho da Silva, deu,  falou da contradição do trabalhador que vê as dificuldades por que passa a família (como hoje os impostos, cortes nos salários, etc.)  e a decisão de fazer greve, piorando a situação, como no "Germinal" …
Creio que cada um pode comparar aquilo quiser. No entanto, o que se passa hoje, é que não há comparação possível. 
"Germinal" é um romance de Emílio Zola (publicado em 1885) que retrata a situação dos mineiros no sec. XIX, em França.
O progresso da sociedade, em todos os aspectos, levou a que não haja qualquer relação com o que se passava no sec. XIX.
Basta ver o que se passou com a protecção da infância ou com a legislação laboral. A segunda metade do sec. XX, principalmente depois dos trabalhos sobre vinculação, permitiu que a infância pudesse ser vista de um modo completamente diferente. Foi por essa altura que foi feita a declaração universal dos direitos da criança e posteriormente, em 1989, foi assinada a convenção sobre os direitos da criança que obriga os países signatários a obedecer aos princípios nela previstos.

Mas não podemos dizer que no mundo todos os países estejam no mesmo nível de desenvolvimento cívico. Bem pelo contrário. A infância continua a ser mão de obra barata em muitos locais e os trabalhadores continuam a ser explorados de forma desumana.
Não é assim entre nós. Temos legislação que respeita a infância e os trabalhadores e possibilita a humanização do trabalho.
Mas é preciso dizer que o trabalho tem vindo a sofrer alterações profundas, resultantes da globalização e não só, como por exemplo:
Com a globalização muita coisa mudou. Só que as regras não são as mesmas em todos os países e não são respeitadas por todos. Podemos querer analisar profundamente o que se passa ou atirar para o neoliberalismo as responsabilidades do que acontece. 
Num mundo globalizado podemos continuar a ver trabalhadores assalariados agrícolas, e de um modo geral a mão de obra barata nas fábricas mas também nos serviços, por via do outsourcing, que têm um poder muito fragilizado em relação ao poder económico e político. 
Mas problema complexo e grave é o desemprego ou o dos jovens que nunca tiveram emprego. E, obviamente, estes não fazem greve.
Quem faz greve, normalmente, são os trabalhadores com melhores condições de trabalho em relação aos outros: função pública, professores, transportes, profissionais de saúde, bancários... 
De resto as greves têm servido principalmente para reivindicar objectivos políticos como a demissão dos governos. 

O conflito é normal na democracia e os sindicatos têm um papel importante na sociedade democrática em que vivemos  e é pena que a sua independência não seja um ponto essencial da sua actuação. 
Se assim fosse, com a situação que o país atravessa, a cooperação e a solidariedade  provavelmente seriam valores mais importantes do que os veiculados pelas organizações sindicais quando recorrem sistematicamente à greve para as suas reivindicações. *

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* Vale a pena ouvir, também numa altura de greve geral, em 2011, uma entrevista com  o Presidente da empresa alemã Siemens
A mentalidade é diferente. Não há greves de solidariedade.
Há um tribunal arbitral para decretar greve (não é para serviços mínimos).
Os sindicatos são um parceiro da gestão das empresas.  São a voz dos trabalhadores: quando se afunda o empresário o mesmo acontece aos trabalhadores/colaboradores.
Esta visão é muito diferente da dos "nossos" sindicatos .

A UGT que tem estado nas greves através da unidade de  acção volta a estar de costas voltados para a CGTP logo que o PS regressa ao poder.
E este é um dos aspectos mais perniciosos do sindicalismo: as chamadas "correias de transmissão" partidárias. 
O que parece é que o objectivo é o fim do sistema capitalista, em teoria, porque na prática para a CGTP é gerir o capital do estado mas para a UGT é gerir o capital.

A CGTP corresponde a 18% da força de trabalho do país (referido por Miguel Portas em entrevista à antena 1). É óbvio que muitos dos sectores que entram em greve afectam todo o sistema social. Os transportes têm aí um impacto significativo.
A UGT, não sei a quanto corresponde da força de trabalho, consegue ter a visão mais próxima da realidade e também menos agressiva até porque são os próprios partidos que a constituem que fazem parte do poder.



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