16/10/14

"O instrumento mais estúpido do mundo"


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Ora, a escola não existe para chumbar os alunos mas para os ensinar. E desde que se diz democrática, integradora e para todos, tem de ter solução para os filhos dos imigrantes e dos emigrantes, para os que provêm de meios sociais mais desfavorecidos, para os que têm necessidades educativas especiais. O que se espera é que dê a todos condições para serem o que querem em vez de ensinar apenas os meninos ou meninas bem-comportados.
Além disso, o chumbo é o instrumento mais estúpido do mundo.
Primeiro, é caro. Os 95 mil alunos retidos a que fizemos referência terão custado ao sistema de ensino cerca de 420 milhões de euros no ano de 2012/13.
Segundo, lança um anátema sobre os alunos. A ciência já mostrou, com muita clareza, que os que chumbam uma vez têm mais propensão a chumbar de novo. Um aluno chumbado uma vez é como uma cabeça de gado marcada a ferro pelo seu proprietário.
Terceiro, não serve para nada em termos de melhoria da aprendizagem, ao contrário do que apregoa o ministro, na sua cruzada contra o facilistimo. Em vez de obrigar a um cuidado especial, sujeita o aluno ao mesmo processo de aprendizagem, fora do seu contexto- outra turma, alunos mais novos, as mesmas matérias, se calhar o mesmo professor, que já o "olha de lado". Ou seja, em vez de possibilitar a aprendizagem repete a ignomínia de não lhe dedicar a atenção de que precisa (e que merece). Se olharmos para o PISA , o estudo trianual da OCDE que avalia os conhecimentos dos alunos de 15 anos (à saída do ensino básico), verificamos que os nossos resultados são muito piores do que em países onde não existe retenção, como a Dinamarca ou a Finlândia. 
Mais um dado para compreender esta situação. Segundo um relatório do Eurydce, em 2009 Portugal era o país da União Europeia (ainda sem a Croácia) onde era maior a percentagem de alunos que aos 15 anos tinham chumbado pelo menos uma vez. Seremos mesmo os mais burros da Europa?"

Obviamente que isto é assim. Porém, o problema não está nos exames. 
Em primeiro lugar, porque antes de haver exames, os chumbos já existiam e não eram de menores dimensões. Pelo contrário. 
Em segundo lugar, há muitos alunos que não estão sujeitos a exame. E há muitos alunos que fazem exames a nível de escola. 
Sem estas medidas, o número de chumbos ainda seria maior.

O problema, de que aqui tantas vezes se tem falado, é o que fazer com os alunos que têm dificuldades. Há quem ainda não tenha percebido que a solução não passa pela retenção e ainda menos pela retenção repetida (três e quatro anos no mesmo ano de escolaridade).
Havendo retenções (e há países mais desenvolvidos que o nosso onde não há), tem que haver um conjunto de medidas, de currículos alternativos, de cursos alternativos, de cursos pre-profissionais e profissionais, para que isto não aconteça. E não de "classes especiais", onde as disciplinas e programas continuam a ser os mesmos com a diferença de que os alunos têm mais apoios, estão "integrados com os do seu nível", têm mais atenção dos professores ... isto é, "chove mais no molhado".

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