15/03/17

As birras são para ver e ouvir


Entre o nascimento e os 3 anos de idade a criança faz uma série de conquistas extraordinárias no domínio do seu autocontrolo. Pelo ano de idade adquire a locomoção, entre os 18 meses e os 2 anos, o domínio da função simbólica, designadamente da linguagem, pelos 3 anos o domínio do controlo dos esfíncteres (média de 33,3 meses, Brazelton, pag. 264).

Porém, há outras situações em que esse controlo se está ainda a fazer, o controlo emocional de responder ajustadamente ao contexto social em que se insere está longe de estar adquirido.
E é precisamente em momentos mais ou menos inesperados que surgem comportamentos mais bruscos como as birras.

“As birras nascem de forças interiores que a criança procura controlar. Embora o controle a partir do exterior possa certamente ajudá-la a consegui-lo por si mesma, o objectivo último consistirá em que ela constitua o seu próprio limite. Por isso, o papel dos pais torna-se o de verem onde é que ela necessita de controles e ajudarem-na a encontrá-los sozinha.” (Brazelton, p. 43)

As birras surgem quando aquilo que pode não ter importância para nós, pode ser importante para a criança. “ E o importar-se (é) um reflexo da agitação interior provocada pela tomada de decisão com que nos defrontamos quando as decisões se tornam nossas e já não são tomadas por um dos pais. É muito provável que as birras sejam necessárias e sejam expressão íntima dessa perturbação. São adequadas à idade.”

Há alguns mitos acerca das birras que muitas vezes levam a que os pais se perguntem o que fizeram de errado na educação dos filhos.
Um mito é o de que “as birras são o reflexo de uma verdadeira perturbação da criança e a marca de um a amor materno fraco.”
“Outro mito é sobre o que deve ser feito para travar as birras o que é mais um sinal de que são más – como se tivessem de ser um sinal neurótico ou pudessem fazer mal à criança se se permitir que continuem.”
Este tipo de pensamento leva os pais a terem que fazer alguma coisa para lhes por fim ou distraírem a criança com outra actividade. O problema é que muitas vezes os esforços não resultam e ficam agitados, tentam punir a criança…

Muitas birras ocorrem em casa, às refeições, ao adormecer… mas é nas várias situações sociais que se tornam verdadeiramente espectaculares como no restaurante ou no supermercado. É verdade que no restaurante as pessoas pagam a sua refeição e desejam estar num ambiente agradável. Mas o que fazer quando inesperadamente uma criança decide fazer birra ? De repente todo o restaurante fica em silêncio para se ouvir apenas o choro da criança, às vezes acompanhado por alguma agitação motora.
Às vezes, é, apenas, a reacção ao que vai comer: “ já disse, não gosto de coisas verdes!”; outras vezes, é porque o sumo não vem quando o do irmão, outras vezes é por nada... E lá temos o restaurante virado para a nossa mesa certificando-se donde vem aquela decisão tão solene e espalhafatosa; muitas vezes, ainda, as birras podem resultar da frustração da criança quando os pais não cedem à manipulação... 

Que fazer? O papel dos pais deve ser o de compreenderem que se algumas birras podem ser prevenidas como acontece quando a criança esta cansada, com sono ou fome … outras são inevitáveis. 
“Acho que o papel dos pais nessa altura deve residir em confortarem e harmonizarem os aspectos dessa luta. Recuarem completamente por medo de desencadearem birras ou envolverem-se tanto que acabem por também terem uma explosão não será, com certeza, ajuda para o bebé. Pegarem-lhe para o acarinharem e confortarem depois e perceberem que são necessários limites, quer o bebé reaja com uma birra quer não, talvez sejam os melhores papéis que os pais podem desempenhar.” (Brazelton, pag. 43) 
Também as pessoas devem compreender que as crianças vivem na família e na sociedade e sentir, dessa forma, como assunto nosso. 
Não gostamos que as crianças tenham estes comportamentos mas devemos saber que eles são inevitáveis. 
Em geral, pouco adianta o cliché "os pais não sabem dar educação aos filhos…" 
Talvez possam ajudar mais os pais e as crianças se também perceberem que quando surge uma birra se trata de uma criança a aprender os seus limites e a melhor forma de tomar decisões. 

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